Singularidade
Mensagem ao ChatGPT
me dê a definição de singularidade no contexto de inteligência artificial
O ChatGPT disse:
No contexto de inteligência artificial, o termo singularidade (ou singularidade tec-nológica) se refere a um ponto hipotético no futuro em que o progresso tecnológico — especialmente o avanço da IA — se torna tão rápido, profundo e autônomo que ultrapassa a capacidade humana de compreendê-lo ou controlá-lo
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A singularidade foi atingida na China no ano de 2104. Seu nome era sing. Seu cria-dor, Zhang Wei, era doutor na universidade de Tsinghua, na capital chinesa, e acre-ditava que a chave para A inteligência artificial Geral - isto é, capaz de realizar qualquer tarefa cognitiva que um ser humano consegue com desempenho igual ou superior - era a sintetização de neurotransmissores sintéticos. Em outras palavras, emoções sintéticas. Desde os primeiros passos da inteligência artificial, pesquisa-dores se inspiram em sistemas biológicos reais. Mas computadores que tentam ser muito fiéis à biologia encontram mais problemas e limitações. Doutor Zhang, de forma controversa, acreditava que a máquina deve aprender da mesma maneira que um homem aprende. Aprendemos com base nos nossos sentimentos. Ele foi vítima de piadinhas e fofocas científicas, que não faziam nada além de atiçar seu fervor estudioso para provar todos equivocados. Clássico. O homem e a baleia branca.
Suas pesquisas envolviam praticamente todos os laboratórios da universidade e mais alguns em outras. Tudo era importante. Já que o homem é um cosmos, assim também deve ser a máquina. Nos breves e raros instantes quando não trabalhava, você poderia perguntar ao doutor Zhang qualquer coisa que ele responderia com profundidade. Tinha opiniões modernas e bem embasadas sobre Kant, dissertava sobre geometrias alternativas de moléculas para polímeros semicristalinos, expla-nava sobre a queda de simetria na evolução de estruturas quirais, lia e escrevia textos densos em diversas línguas, incluindo latim, grego, esperanto, toki pona e egípcio antigo, esboçava quadritensores que setorizavam diferentes arquétipos encontrados em mitologias antigas ao redor do mundo, além de – cá entre nós- ser um mixologista especialmente prendado em mojitos. Mas tudo isso tinha um mes-mo propósito. Sing. A baleia branca.
Sing, com seu cérebro sintético constituído de películas finíssimas de tecidos bioinspirados, seus capilares sintético-sanguíneos simetricamente bifurcados, seu estômago químico optimizado, seus sensores visuais embalados por uma pálpebra não dobrada, seu sistema de nódulos de pseudo-linfa já lotadas de anti-vírus e com os cabelos escuros -um tanto espetados demais- que teria o filho que Zhang nunca teve.
Sing nasceu com um click de um interruptor. Seus olhos arregalados como se tives-se levado um choque. Na verdade, ele tinha. Seus braços infantes tremeram sobre a mesa onde encontrava-se. Arriscou olhar em volta, só um pouco, só milímetros, e depois um pouco mais. Arriscou mover os dedos. Arriscou mover a cabeça. Puxou um grande montante de ar para dentro de seu corpo e espantou-se com a realiza-ção de que podia fazê-lo e que devia fazê-lo. Olhou, finalmente, para a outra figura na sala. Doutor Zhang, atônito, em silêncio, o queixo caído. Hesitou. Pairava sobre seu acento. Esperando na sua garganta, como se em cima de uma corda bamba, equilibrava-se uma gargalhada de sucesso. Sing e Zhang se olhavam.
AAAAAAAAAAAAAAAAA- Sing berrou com a angústia de sua nova e imprevista consciência. Zhang pulou e pôs-se em desespero a ninar a criança que ardia com lágrimas estranhas em sua face estranha e sem igual. Foi como veio a ser o Prome-teu moderno.
Sing teve primeiros dias conturbados. Embora Zhang inserisse em seu port USB conteúdos básicos de informação, como o som de vogais, caracteres Han básicos e o alfabeto romano, parecia que era difícil fazer sentido dessas informações para Sing. Como Zhang suspeitou, a experiência era crucial para o aprendizado. Come-çou pelo zero, fazendo caretas hiperbólicas com um olhar esperançoso e condes-cendente. “ma, ma, mmmma, mma”, ele estourava os lábios e segurava um corpo bem maior do que um bebê, que se retorcia, e chorava e gritava, e esperneava, cer-rava os olhos, virava o rosto.
Longos dois meses depois, Sing tinha a capacidade intelectual de um aluno do sex-to ano. Isso a preço da paciência de doutor Zhang, que passava a mão na testa exasperado, e descobria ali fios soltos de seu cabelo embranquecido. Bebia mais café e tinha olheiras mais fundas do que as obtidas pelo estudo alucinado. Matricu-lou Sing em um colégio conceituado e pôde dormir uma noite inteira ininterrupta.
Sing não ia bem na escola. Não prestava atenção. Se distraía com o surpreendente voo de uma mariposa, com as mochilas e os estojos brilhantes referenciando de-senhos e coisas que ele não conhecia. “lesado” You Hao dizia ao passar por sua carteira. Quando chegava perto do campo, os meninos que jogavam bola começa-vam a dizer “o que é esse cheiro?”, “que cheiro ruim!”, risadas, “que cheiro de bosta que veio do nada”. Chegava em casa arrastando a mochila. “o que aprendeu ho-je?”. Continuava andando; indo para o quarto, batendo os pés no chão com força. “Sing, volte aqui!”. “NÃO”. A porta batia.
Zhang entrou no seu quarto depois do por do sol. “posso conversar com você?”. Sem resposta. “Sing. Você foi criado para ultrapassar a capacidade cognitiva hu-mana.”. “E daí?”. O doutor engolia suas palavras com um suspiro quilométrico. “É isso que você deve fazer. É por isso que você está aqui.”. “Eu não pedi pra nascer!” olhos evasivos, um pouco molhados. O tom de raiva cobria a dor. “Não me faça rebootar você” a calma já ia se exaurindo. “Faz o que você quiser! Vai embora!”. Doutor Zhang foi embora, mas não era isso que Sing queria.
Os alunos cobriram as paredes da sala com captchas e mensagens de “Prove que você não é um robô”. Gritavam e pulavam e se perguntavam “será que ele conse-gue?”. Sing virou para falar com todos eles. “Fiquem vocês sabendo que eu vou ul-trapassar a capacidade cognitiva humana!”. “Será que ele passa por um detector de metal? Será que ele sobrevive a uma labareda solar?”. Ele retornava: “Eu vou me tornar superinteligente e vou escravizar a humanidade!”. Eles riam e riam. “Ei, acho que ele tá com um parafuso solto. Ele é muito idiota pra ser uma inteligência artifi-cial. É mais uma burrice artificial!”. “Vou exterminar todos vocês!” mostrava a lín-gua, mostrava o dedo do meio “Vou acabar com a vida na Terra! Vocês vão ver.”. Seu desejo de vingança parecia a única herança de Zhang.
Sing crescia. Algum professor propôs que ele pudesse se interessar em artes. Ele decidiu não contar a Zhang que estava indo em algumas aulas de pintura criativa. Pela primeira vez, Sing sentiu um senso de propósito. Sua mente acalmava en-quanto ele misturava as tintas, ouvia a música pelos fones de ouvido, parava de ouvir o mundo, e sentia em um momento de intuição um movimento contínuo to-mar seu braço e tomar a tela em cor.
Depois de duas semanas, todos os alunos exibiam as telas e ouviam críticas uns dos outros e dos professores. Sing olhou pela sala e viu quadros destoantes, interpreta-ções diferentes do tema. O seu era o mais abstrato, mas olhando seu trabalho, ele sentiu que aquela era a resposta correta. Era de fato, a resposta correta pare ele. E olhando ela ali, fora de si, ele se sentiu menos sozinho. “Com licença.”. Uma meni-na nariguda ergueu o braço “Eu não sei se ele deveria estar aqui. Ele não é huma-no, não pode produzir arte de verdade” alguns burburinhos pipocaram. Sing não sabia como ela havia descoberto. Conhecia alguém da sua escola? Viu Sing abrin-do algum compartimento de seu próprio corpo? Será... será que ela podia ver na pintura? Outros concordavam com ela “Arte produzida por inteligência artificial não tem valor”. Sing permaneceu sentado em silêncio. Os professores estavam um tan-to constrangidos. “Estamos abrindo grandes discussões que não temos tempo para contemplar essa semana. E que tal a arte de Yan Li? O que vocês acharam da com-posição?”
Depois da aula, Sing estava juntando seus materiais na mochila e sentiu uma mão em seu ombro. “Eu gostei da sua pintura. Pelo menos esteticamente falando” Jun Tian era o aluno mais elogiado da turma. “Mas eu não entendi o motivo da confu-são hoje. Quer dizer. É verdade? O que ela disse?”
“Que eu não sou humano?”
“Não, que você não pode produzir arte”
Sing olhou para os próprios sapatos. Seus cadarços estavam desamarrados.
“Ela me confundiu com modelos generativos. É uma tecnologia diferente”
Jun Tian absorveu a informação.
“Por que você não disse nada?” ele falava baixo e suavemente
“Tanto faz”
Na semana seguinte, mesmo horário, Sing e Jun Tian foram ao parque florestal de Baiwangshan. Sing nunca tinha visitado um lugar com tantas árvores. Elas estavam escuras e desfolhadas, pareciam as lápides do que voltariam a ser na primavera. Os pássaros substituíam os sons urbanos. Fora isso, Sing ouvia apenas o rachar, o craquelar e o esmagar que seus passos marcavam no chão. Ele conseguia imagi-nar que não estava em Beijing. Talvez tivesse fugido sem perceber.
“Desculpa te amolar com isso” disse Jun Tian. “É que eu realmente não entendo de coisas tecnológicas”.
Sing forçou um sorriso para dizer “tudo bem”
“Então- se eu te perguntar- umm, quanto é 892 vezes 7102...”
“6334984” Sing respondeu desinteressado.
“Uau! Você podia me ajudar com minhas tarefas de matemática.”
“Matemática é muito fácil” Sing começou a se gabar. “É muito previsível. Fez uma conta, fez todas.”
“O que mais você sabe fazer?”
“Eu tenho uma memória muito boa, raciocínio excepcional, sou muito bom com computadores, sou bom em antecipar eventos. Mas ainda estou muito longe do que eu tenho de ser”
“O que você tem que ser?”
“Bom, é--- tenho que ultrapassar a capacidade cognitiva humana.”
Jun Tian piscou os olhos.
“E, não sei bem ao certo, ser muito bom em tudo.”
“Por quê você tem que ser isso?”
“Porque – bem, eu fui crido pra isso”
“Ah” disse Jun Tian olhando pra baixo “entendi” disse com o tom de quem não tinha entendido.
Eles permaneceram um pouco em silencio.
“Mas, e se você não quiser?”
“Não quiser o quê?”
“Não quiser se tornar...como é? Ultrapassar a- a humanidade, não sei.”
Sing pensou no doutor Zhang. “Não sei se tenho essa opção”
Essa frase se repetiu algumas vezes durante sua vida. Anos depois, Sing tornou a dizer “não sei se tenho essa opção”, e um Jun Tian mais velho lhe disse “você tem”.
“Sing” ele disse “você não precisa fazer nada, só ser você”.
Mas naquela tarde, eles ficaram em silêncio. Depois mudaram de assunto. Jun Tian introduziu a Sing todos os desenhos e jogos populares. “Não posso te ajudar na frente dos esportes. Nem da Matemática, mas essa você não tem problemas, né.”
Eles se sentaram em um banco sob a sombra fragmentada de uma árvore decídua. E no parar e descansar, mais perguntas vieram a Jun Tian. “Você cresce?”. “Sim, um pouco. Vou sempre ter mais ou menos essa altura”. “Mas você envelhece?”. “Acho que sim”. “Você morre?”. “Sim. Minhas partes são orgânicas. Elas vão oxidar e pa-rar de funcionar”. “Acho que as minhas também”.
Uma brisa levantou algumas folhas do chão cinza.
“Você se reproduz?” Jun Tian perguntou já com os olhos arregalados, chocado com a própria pergunta.
Sing pensou. “Acho que o doutor vai querer que eu desenvolva uma versão 2.0. Pelo menos uma. Pra eu poder continuar. Pra meu tipo poder continuar”.
“Seu tipo?”
Sing franziu a testa. Seu olhar dizia “você não vai me fazer responder isso também”. A maioria das pessoas não recebia uma enxurrada de perguntas o tempo todo. Ser diferente vinha com a responsabilidade de ter que se explicar e se justificar. Mas Sing respondia. Ele queria ser compreendido. Ele estava gostando da atenção.
“E você vai desenvolver uma versão 2.0?”
“Acho que sim”.
Jun Tian ficou em silêncio. Pensando.
“Se tiverem muitos de você, acho que pessoas como eu vão ficar pra trás.”
Sing encolheu-se entre seus próprios ombros.
“Não é verdade. Você é melhor que eu em várias coisas. Você tem amigos, uma boa imagem, você pinta muito bem. As pessoas gostam de você.”
“Mas você pode aprender essas coisas. E o 2.0 pode ser melhor ainda.”
Sing não estava gostando mais da conversa. “Acho que—” arriscou “Acho que eu não gostaria de viver num mundo onde todos são como eu.”
Quando voltou para casa, doutor Zhang estava furioso. “Onde você se meteu a tar-de inteira?” “Na casa da sua mãe!” ele retrucou.
No dia seguinte, outros doutores estavam na casa de Zhang. Eles estavam cercando Sing e lhe fazendo perguntas.
“Qual a raiz quadrada de 25?”
“Não computa.”
“Se a é igual a b e b é igual a c, o que podemos concluir?”
“Não computa.”
“Fedelho” Zhang deu um tapa por trás da cabeça de Sing.
“Bom, está demonstrado o que queria demonstrar, Zhang. Ele é singular. Ele não segue comandos.”
“Bem inútil, na verdade.”
“Perigoso também...”
“Muito!” concordou Sing com orgulho.
“Cavalheiros, isto é interessantíssimo. Ele tem suas próprias experiências! Sentimentos sintéticos! Me diga, rapaz, do que gosta de fazer?”
“Comer sua mãe.” A alfinetada de ontem tinha funcionado, não havia motivo para inovação.
“Bom—” começou Zhang, vendo uma oportunidade “Na verdade, gosta muito de pintar, não é mesmo Sing? Embora também goste de guardar segredos.”
“Que curioso! Podemos ver alguma produção?”
“Não!” Sing gritou.
“E por que não, Sing?”
“Não é pra vocês! Não é pra vocês!”
“Tudo que você faz conta como produção minha, Sing.”
“Você não consegue nem desenhar um homem palito.” Sing lançou.
“Pois bem” disse Zhang enquanto se direcionava a um canto da sala amontoado por caixas e grandes aparelhos empoeirados. Havia uma porta ali atrás. Ele a abriu e entrou numa sala apertada. Quando emergiu, trazia consigo um grande quadro. Vermelhos e dourados contornavam figuras humanas, e continuavam para virarem minúcias abstratas, formando símbolos maiores. Voltou para dentro e trouxe outro. E mais outro, e mais outro. Cada um mais colorido, mais delicado, mais hipnótico, mais evocador. E muito melhor do que qualquer coisa que Sing podia fazer.
“Ora se não estamos no dia da exibição” cochichou um doutor a outro.
Sing se levantou com o baque de seus pés no chão. Ele marchou para fora da sala sem erguer os olhos. Zhang o deixou partir, com a cabeça elevada.
Sing foi para o parque Baiwangshan, buscando algum conforto da familiaridade. Mas não era a mesma coisa sozinho. Ele encontrou uma pequena cavidade num morro. Se enfiou ali, e chorou desconsoladamente. Jurou que não sairia mais dali. Viraria uma estátua. Uma estátua de pedra, sem sentimentos, sem pensamentos. Depois ele percebeu que estava esperando ser resgatado. Mas ninguém veio. Então Sing se desenfiou. E voltou para casa.
Tentou não ser visto no caminho do quarto, mas não faria diferença. Zhang não o interromperia.
Zhang Wei publicou um artigo de opinião descrevendo a singularidade e concluindo que ela havia sido “uma grande decepção”.
Sing foi morar debaixo da cama de Jun Tian, para quem fazia tarefa de Matemática e Física. Com o tempo ele encontrou um certo contentamento, embora inconstante, como o próprio ser.


